sábado, 28 de setembro de 2013

Avó, you're doing it wrong

   O meu coração por vezes parte-se quando vejo a forma como a minha mãe "adestra" o meu sobrinho de seis anos. Como sou filha dela, dou por mim a comparar os meus desatinos com aquilo que ela transmite à criança, pois tal como dizia o outro, a culpa é dos pais.

"Estás com fominha? A avó vai fazer sopinha, com cenourinha, batatinha, uma cebolinha...mas antes vamos tomar banhinho para ficares fresquinho e poderes vestir o pijaminha"
Tenho um receio oculto que ele se esqueça de falar Português e fale apenas Portuguesinho. Felizmente, apesar de ela falar com ele com muitos diminutivos, ele fala com ela normalmente, sendo que por vezes chega mesmo a corrigi-la, lembrando-a que já não é bebé.

"Já papaste a chichinha toda?"
Palavras como "papar" e "chicha" já não ficam bem com crianças que sabem utilizar advérbios de modo no início das frases. 



"Olha..li no jornal que um menino de três anos estava a brincar com parafusos, pô-los na boca e morreu. Já viste? Os parafusos asfixiaram-no e ele morreu, era mais pequenino que tu! Tu não brincas com parafusos, pois não?"
Há muitas formas de dizer às crianças que não se deve brincar com parafusos. Colocar a imagem na nossa cabeça de um menino a morrer asfixiado por um, não é uma delas. 

"Um menino com dois aninhos morreu asfixiado com um pedaço de salsicha. Temos de mastigar bem a comida, de um momento para o outro podemos morrer asfixiados, já viste?"
Durante muito tempo da minha vida eu não comi presunto porque tinha medo de sufocar. O meu sobrinho agora vai temer salsichas.


"Este menino de cinco anos morreu afogado na piscina! Estás a ver por que é que a avó está sempre a dizer para teres cuidado?"
Sim, de certeza que ele está a ver e a partir de agora vai pensar duas vezes antes de se atirar das escadas da piscina.

"Aquilo em cima do camião não são tapetes! Aquilo é cortiça, que os senhores tiram das árvores da cortiça que depois vai crescendo e eles voltam a tirar. Arrancam aquilo à volta do tronco, à machadada, e fica assim. Depois é tratada e eles fazem rolhas para garrafas. Aquilo também serve para fazer outras coisas, mas primeiro os senhores têm de a arrancar das árvores e colocar em cima dos camiões como aquele para a levarem para a fábrica. Não sabes como são as rolhas das garrafas? Aquilo é cortiça, mas já está tratada. A cortiça por tratar é rugosa"
O meu sobrinho viu um camião carregado de cortiça e perguntou por que razão estava o camião carregado de tapetes. A minha mãe tomou a iniciativa de lhe explicar que aquilo era cortiça. No fim, o meu sobrinho verbalizou aquilo que todos ficaram a pensar.."han!?".
Isto é um exemplo das muitas vezes que presenciei a minha mãe a tentar explicar algo à criança, sem sucesso. Ela utiliza muitas expressões e figuras de estilo, como perífrases e metonímias,  que deixam o pobre rapaz ainda mais confuso, como aquela vez em que ela estava a tentar explicar o que era prisão domiciliária e disse "as pessoas são presas em casa e não podem sair. Se saírem aquilo faz pi pi pi pi lá na polícia".

Podia passar horas a dar exemplos, mas acho que já chega. 



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O lado positivo de reprovar

Eu, trajada, a entrar numa aula de primeiro ano

A ter que explicar sucessivamente que estava ali porque faltei sempre àquela cadeira

Enquanto aluna de 3.º ano ao ouvir o programa da cadeira

sábado, 21 de setembro de 2013

APELO

Querida, desejo-te a ti e à tua família momentos felizes agora e para sempre, ámen.

Por favor, eu não tenho uma relação formal contigo mas devido à minha difícil situação e circunstâncias do presente, entrei em contacto contigo. Tenho sofrido de cancro do pulmão e resta-me uma curta vida para viver. Decidi doar a minha herança de 6,5 milhões de dólares americanos ao meu único filho e a ti mas tens de me ajudar a cumprir o meu último desejo. De acordo com isto, serás compensada com 50%, enquanto que 30% será doado à criança sem mãe e 20% ser-te-ão confiados até que o meu filho vá para o teu país. Preciso portanto de assistência para mover estes fundos para o teu país antes da minha morte, para que o meu filho possa completar os seus estudos e conseguir aí uma vida melhor.

Angela

  Recebi esta mensagem via Facebook há uma semana. Antes de mais folgo em saber que Portugal se encontra na rota dos grandes investidores e espero sinceramente que isso resulte num país mais próspero e equilibrado. Não sei que incentivos tem o Governo andado a dar, mas tiro-lhes o chapéu. Seguidamente devo confessar que me sinto deveras homenageada por ter sido eleita para esta acção tão magnânima e inesperada. Eu que nunca participo em jogos de azar, que nunca gasto 0,60€ (+IVA) a ligar para o Querida Júlia, serei agraciada com uma quantia tal que poderei chumbar mais umas quantas vezes a Inferência Estatística que terei sempre dinheiro para uma nova matrícula. 

  É difícil decidir qual a parte mais interessante desta mensagem, mas tenho definitivamente de dar destaque a esta mãe. Uma mãe que apesar de se encontrar certamente debilitada e com pouco tempo de vida, preocupa-se acima de tudo com o futuro do filho que a vai ver partir. Numa altura em que milhares de portugueses vêem o futuro do seu país a preto e branco e vão para fora procurar novas oportunidades, há sempre alguém de fora que vê o nosso país como um destino a ter em conta. Vêem o bom que há em nós, levando-os mesmo a abdicar de 7/10 do pecúlio que garante o futuro de qualquer pessoa em qualquer lugar, mesmo naqueles lugares onde o conceito de 'instituição bancária' ainda não seu entrada, em prol de um percurso académico de sucesso no ensino português. É sem dúvida de louvar, até porque para nós que estamos cá e não damos valor àquilo que temos, esta mensagem serve de lição e incentivo. 

  Agora que serei milionária, terei todo o gosto em oferecer dinheiro só porque sim, até porque não quero correr o risco de vir a ser entrevistada pela Judite de Sousa Pós-DivórcioFaltaDepila. No entanto preciso de assistência para assistir a Angela em primeiro lugar. Alguém se oferece? Ámen.


domingo, 8 de setembro de 2013

A tenuidade entre o bom e o mau dos gases

   Na escola aprendemos que a matéria pode apresentar-se na sua forma líquida, sólida ou gasosa. O gás é portanto algo natural, composto por partículas malucas e desorientadas, que podemos encontrar no nosso dia-a-dia. Há inclusive uma lei da física chamada 'lei dos gases ideais', que impõe um conjunto de regras de conduta aos gases para que eles atinjam a perfeição. É quase como se os gases fossem estudar para um colégio católico do século XIX e saíssem de lá os gases que qualquer cientista gostaria de ter.

  Sem determinados gases seria impossível sobrevivermos. Respiramos oxigénio e libertamos dióxido de carbono, também ele essencial. Na maioria das casas as pessoas cozinham com gás e também precisam dele para aquecer a água e para os seus automóveis. Depois temos outro tipo de gases - aqueles que nós libertamos. 

    Sempre que arrotamos, estamos nada mais nada menos que a deitar os gases do nosso estômago cá para fora. E se o fazemos é porque precisamos de o fazer, pois o nosso corpo é que sabe. Não é por acaso que quando alimentamos os bebés, eles têm de arrotar logo depois, pois se não o fizerem correm o risco de vir a ter dores mais tarde. Posto isto, não somos só nós, seres humanos, que arrotamos. Muitos outros mamíferos o fazem, incluindo os cães. Ora, segundo a minha experiência, sempre que um cão arrota as pessoas acham piada. Não é tanto "oh tão querido, está a libertar gases do estômago porque o organismo dele não os está a conseguir absorver", é mais "oh tão querido, parece uma pessoa". Mas quando uma pessoa arrota, muitos acham rude e ficam enojados..."parece um cão". Mas se um cão é querido porque arrota como uma pessoa, por que razão uma pessoa é rude por arrotar como um cão (ou ainda melhor, como uma pessoa, visto tratar-se de uma)? 

  Em que altura da história, desde o surgimento dos seres humanos até aos dias de hoje, é que o arroto se tornou um sinal de falta de educação na nossa sociedade? E em que idade ele deixa de ser bem aceite,quando começamos a comer comida sólida? E por que é que tenho de pedir perdão caso arrote? É pecado? Devo sentir-me culpada por não ir contra as vontades do meu corpo? Por que hei-de sentir-me constrangida quando o faço ao pé de alguém se esse alguém também o faz? E o que é isso de 'arrotar para dentro'? Foi alguma regra imposta pela ditadura de Salazar que se esqueceram de revogar entretanto?


 Pior que o arroto, só mesmo o subestimado peido ('flato' se formos puritanos e 'pum' se formos mais sensíveis). Também o acto de se peidar é natural, porém os peidos cheiram mal e as pessoas têm tendência a segurá-los quando estão acompanhadas. Eu seguro os meus, tu seguras os teus e a rainha de Inglaterra segura os dela, adiando assim algum constrangimento público. Mas se cheiram mal, por que é que as pessoas se riem? Desde quando é que um 'pum' faz rir as pessoas?

 "AHahHah expeliste um gás pelo orifício pelo qual saem os excrementos!" 

"AHahHah foste incapaz de o reprimir!"

"AHahHah o teu flato exala mau cheiro porque contém enxofre, um gás naturalmente mal cheiroso... devias consumir sabão perfumado, porque é tóxico."



domingo, 1 de setembro de 2013

Febre de Domingo à noite


   Tenho visto o programa, mas o ideal é vê-lo a partir das gravações automáticas para que possamos saltar todas as partes desinteressantes, que são todas excepto os vídeos dos ensaios e das actuações. 

O conceito
  O conceito deste programa é semelhante ao "Dança Comigo" da RTP1. Contudo, além das diferenças óbvias, há umas que saltam à vista. Em ambos os programas as pessoas podem começar a votar antes do fim das actuações, o que faz com que as pessoas com mais votos sejam as pessoas com mais fãs, família e amigos. No entanto a avaliação pelo júri é diferente, pois os concorrentes estavam divididos em grupos de dois e havia como que um sistema de comparação. Posto isto, havia também uma tendência no "Dança Comigo", para que o público descartasse aqueles que menos os entretinham. Depois, além do programa do canal público optar por música de acordo com o estilo de dança, a música era ainda cantada ao vivo. Os concorrentes não dançavam necessariamente sempre com os mesmos dançarinos profissionais, que integravam um plano mais secundário, sendo que as apresentações eram delineadas pelo mesmo coreógrafo, que fazia parte do júri.

A Cristina Ferreira
  Ultimamente a Cristina Ferreira tem andado muito vaidosa, sendo o seu mais recente blog uma prova disso. Isso não seria um problema, caso não se reflectisse de forma negativa no programa. Aquelas trocas de roupa após cada intervalo são muito giras, mas o espectáculo que lhe antecede é tão deprimente. Ela bem que podia aprender uns passos de dança novos, ou não fosse este um programa dedicado à dança. O pior é que nos últimos programas ela fez questão de "dançar" a mesma música duas vezes seguidas. E a falta espontaneidade? Parece que sente a necessidade de ser engraçada e com classe e então ensaia bastante nesse sentido, mas quando tem de improvisar, lança uns risinhos falsos e uns gestos inúteis para dar o ar da sua graça. Não vale a pena comentar o tom de voz dela, o histerismo que lhe é característico, porque parece-me que após o primeiro programa tem sido mais aturável. Ela resulta bem ao lado de um Manuel Luís Goucha, cujo profissionalismo, inteligência e experiência abafam qualquer erro alheio, mas creio que ainda tem de penar muito para ganhar o estofo necessário para apresentar um programa desde calibre sozinha, ou então basta-lhe perceber que chegou onde chegou a ser pacóvia e barrasca e o crescente de vaidade que tem vindo a demonstrar só a prejudica.

O Júri
  Mais uma vez a Alexandra Lencastre faz parte do júri de um programa de talentos da TVI. Na minha humilde opinião, é ela que muitas das vezes dá graça ao programa e já cheguei a pensar que ela faria melhor figura que a Cristina Ferreira na sua condução.

 O Sr. Alberto é o único elemento do júri que percebe realmente da técnica que ali é exposta, ou não fosse ele, entre outras coisas, um dançarino campeão por diversas vezes, professor de danças e juiz em várias provas nacionais e internacionais. Mas parece que o que as pessoas querem é ouvir elogios, mesmo que não correspondam à realidade, já que sempre que ele faz um comentário menos abonativo é bombardeado em várias frentes. Nota-se que ele é bastante comedido, mas no meio daquela festa cigana fica um pouco intimidado e talvez seja por isso que não dê as pontuações que acha que devia dar.

 E por fim o Cifrão, que venceu a última edição do "Dança Comigo".
  
O Paulo Fernandes
 A Mariza Cruz era a apresentadora mais ridícula da TVI, mas eis que chega Paulo Fernandes. Comentários inapropriados e uma espécie de obstipação crónica que se nota através da sua postura pouco dinâmica. Acima de tudo, ele é irritante e devia dedicar-se à rádio, onde ninguém o vê. Ora vejamos a sua apresentação na página da Cidade FM: "Olá. Olá. Digo duas vezes 'Olá' porque sou uma pessoa que gosta de deixar tudo bem claro!". Acima de tudo, ele é irritante (também gosto de deixar tudo bem claro).

As músicas
  Por vezes acho original escolherem músicas de estilos diferentes, mas dançar cha cha cha ao som da música "Get Lucky" dos Daft Punk além de inadequado é aborrecido para quem está ver, pelo menos para mim. É como se eu fosse dançar o tango para o meio de uma discoteca. Até podia dançar bem, mas...


prog1.jpg

  A minha mãe acha piada a este programa, então eu vejo-o sempre que estou em casa com ela. Não há muito a dizer. Os jogos são forçados e não têm tanta piada como se pensa. A Andreia Rodrigues é abafada pelo César Mourão. Não tem formação e é um tanto ou quanto fundamentalista em relação à defesa dos animais o que se torna irritante. Há regras, mas se não forem cumpridas...não faz mal. Há objectivos, mas se os concorrentes estiverem com dificuldades...são ajudados. Em relação à versão americana deixa muito a desejar.

  Será assim tão difícil fazerem programas menos insossos?