domingo, 17 de fevereiro de 2013

Acordo Ortográfico I


  Pedro Santana Lopes, nascido e criado em Lisboa, estudou direito e sempre trabalhou dentro desta área e na área da política. Em Janeiro de 1990 assumiu a Secretaria de Estado da Cultura - ao que tudo indica tinha experiência na matéria por ser filho de um "guarda-livros" na Companhia das Lezírias e por ser leitor assíduo do jornal "A Bola". É na qualidade de Secretário de Estado que, nesse mesmo ano, assina o novo Acordo Ortográfico. 

"Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa)"
Santana Lopes

    O AO foi assinado a um Domingo, no dia 16 de Dezembro de 1990. É do conhecimento público que Santana Lopes sempre gostou de saídas nocturnas (tendo já um filho RP numa discoteca em Cascais) e a noite de Sábado para Domingo naquele fim-de-semana pode não ter sido excepção. Ora, facto continua a ser facto e o facto de que, anos mais tarde, o dito cujo venha afirmar que o AO faz sentido dando exemplos explicativos como este, leva-me a querer que nem sequer estava a par daquilo que estava a assinar, ou como também é possível, a ressaca bateu forte naquele dia.

    Mas para Santana Lopes, escrever ambos os substantivos da mesma forma faz todo o sentido, já que também... 

" ‘falta’ (no desporto) é igual a ‘falta’ (de carência)"
Santana Lopes

   Amante de futebol e fervoroso adepto do Sporting Clube de Portugal, do qual foi presidente, o dito cujo certamente sabe que no desporto uma falta é uma carência no cumprimento de uma regra, mas nem por isso deixa de nos maravilhar com este exemplo brilhante.

"E nem vale a pena falar do que os nossos avós tiveram de se habituar, para deixar de escrever ‘pharmácia’, palavra com tantas tradições."
Santana Lopes

   Este advogado de 56 anos acredita ter sido muito complicado para as pessoas que escreviam 'pharmácia' passar a escrever 'farmácia'. Sobretudo tratando-se de uma palavra com tantas tradições e à qual a maioria da população tinha certamente acesso. Felizmente na altura, 76% da população era analfabeta e não teve de passar por esse desafio. Se hoje Portugal tivesse uma percentagem de analfabetismo semelhante, certamente não havia necessidade de justificar o AO.

"Eu não escrevo os meus textos com a nova grafia porque ainda não o decidi fazer."
Santana Lopes

    Isto porque Santana Lopes defende a liberdade individual de cada um, no que diz respeito a 'adotar' ou não adoptar o acordo, o que faz todo o sentido. É nos dado aqui um exemplo de humildade como já pouco vemos hoje em dia. 


"A este propósito, Cavaco Silva foi peremptório: em seu entender, o Acordo Ortográfico era essencial para que, no século XXI, o português falado em Portugal não ficasse com um estatuto equivalente ao do latim. "
Santana Lopes

    Isto porque em pleno século XXI, o chamado Português Europeu é falado por uns míseros 60 milhões de pessoas (somente mais 60 milhões que os falantes nativos de Latim). Por este andar, pobres dos Gregos que têm a sua língua falada por menos de metade das pessoas. E por que não adoptarmos o inglês como língua oficial? Ou o mandarim? Não nos teríamos de preocupar com isto nos próximos tempos certamente.


"Nem todos os Estados-membros da CPLP ratificaram ainda o Acordo? Pois não. Mas entre os que já o fizeram encontra-se o país que se previa viesse a ter mais resistências: exactamente o Brasil. "
Santana Lopes


    Aquele país que agora adiou a sua obrigatoriedade por mais uns anos? Sim, mas Santana Lopes tem razão. A Língua Portuguesa, nascida e criada em Portugal e mais tarde em mais 8 países e um número incontável de regiões, deve ter como marco de referência um único país, de preferência o único que tem uma variedade diferente da língua. Vamos todos "pagar pau" aos nossos 'irmãos', pode ser que ganhemos alguma coisa com isso.

"Temos de estar orgulhosos por falarmos a mesma língua — que é a língua oficial de centenas de milhões de pessoas, tendo estado uma escassa mão-cheia de milhões na origem dessa epopeia cultural."
Santana Lopes


    Escassa mão-cheia essa que agora tem de ser submissa num acordo desta categoria. Tenhamos orgulho disto! Se falamos todos a mesma língua, será o AO assim tão necessário?

"A língua portuguesa continuará a ser a ‘língua de Camões’, mas também a de todos os outros poetas que se exprimiram, exprimem e exprimirão em português."
Santana Lopes


    Fico mais descansada. Já começava a pensar que a Língua Portuguesa se iria tornar na "língua de Carlos Drummond de Andrade e Cia".





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